A expedição Caminhos dos Geraes é um evento idealizado e executado pela Fundação Genival Tourinho com apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros, dos institutos Grande Sertão e Vidas Áridas e, também, da OVIVE. Trata-se de um grande evento, iniciado em 2005.
Pesquisadores, estudantes, ambientalistas, jornalistas, representantes políticos e convidados se deslocam pelo território norte-mineiro para interagir e conhecer nosso bioma, a fauna, a flora e suas belezas naturais - veredas, cachoeiras, rios, parques e cavernas. Os expedicionários também catalogam e inventariam os mais variados níveis de agressão ao meio ambiente.
Não se trata apenas de mais uma aventura pelo sertão mineiro. É a realização de incursões em áreas de grande relevância ambiental do Norte de Minas, preservadas ou não, que sofreram processos de degradação ambiental provocada por ações inconsequentes. Para isso, as equipes que irão a campo serão orientadas a catalogarem todos os eventos visualizados durante o percurso. Nas chapadas, veredas, parques e rios o olhar diferenciado e multidisciplinar para os problemas ambientais será essencial para alcançarmos os objetivos propostos nessa Expedição Caminhos dos Geraes 2017.
A última edição da expedição foi realizada no ano de 2008. Devido a mudanças na gestão municipal de Montes Claros a Expedição Caminhos dos Geraes deixou de ser realizada e, consequentemente, alguns eventos importantes do ambiente natural tanto municipal quanto regional deixaram de ser catalogados.
Na edição 2017 a Expedição Caminhos dos Geraes será realizada durante quatro dias, no período de 7 a 10 de setembro. Mais organizado e melhor gerenciado que as edições anteriores, o projeto propõe, além de catalogar e inventariar diferentes eventos naturais e antrópicos, dar um retorno à sociedade sobre os trabalhos desenvolvidos pelas equipes. Esse retorno à sociedade está previsto na forma de três filmes com duração de 26 minutos cada, construção e manutenção de um blog com notícias relacionadas à questão ambiental e reportagens que serão exibidas no noticiário local pelas televisões, rádios, jornais e revistas.
Outro importante produto que a sociedade receberá será a reedição da Revista Verde Grande, agora em formato digital. Ressaltamos que por vários anos a revista constituiu-se num importante meio de divulgação de pesquisas referentes à nossa história, cultura e identidade e, também, às mais variadas questões ambientais que dominam os debates.
A paisagem sertaneja por si só chama a atenção. Una em beleza e múltipla em biodiversidade, pois agrega em seu interior um conjunto diversificado de biomas, há aqui o cerrado, a caatinga, a mata seca e, também, faixas de mata atlântica que ainda podem ser vistas no Norte de Minas. Por ser uma região de transição ecogeográfica, o Norte de Minas permite às suas gentes um viver intenso com o ambiente. Seja no espaço urbano ou rural, as gentes do sertão mineiro cada vez mais se veem necessitadas a buscar soluções que amenizem o principal problema enfrentado aqui: a escassez de água.
E é nessa perspectiva, de água e gente, que a Expedição Caminhos dos Geraes enfrenta esse novo desafio. Sabemos que a questão da segurança hídrica nos últimos tempos passou a ser um problema não apenas local, regional, mas nacional. Cada vez mais é recorrente no noticiário nacional a escassez de chuvas em quase todas as regiões, até mesmo na Amazônia, o poderoso bioma que abriga tantas gentes, águas e bichos.
Esse é um evento importante da agenda ambiental regional, pois permite fazer uma leitura atual dos diversos processos tanto sociais quanto ambientais que envolvem a sociedade norte-mineira. Esses processos são significativos e através deles torna-se possível pensar os desafios, propor e executar políticas públicas que alcancem um maior número de pessoas e ambientes diferentes. Água e gente!
É sabido que a degradação ambiental é resultado da ação antrópica de maneira desordenada. Essas ações precisam ser repensadas e postas em evidência para garantirmos às futuras gerações um ambiente onde seja possível viver bem e para o bem. Essa é uma das propostas de diversas agendas ambientais pensadas em diferentes níveis no Brasil e no mundo.
Para que possa ser eficiente e eficaz, a Expedição Caminhos dos Geraes 2017 definiu três roteiros a serem percorridos. O que foi fundamental na escolha dos roteiros, além das belezas naturais, é a gravidade dos problemas ambientais e sociais já detectados. Para isso, a coordenação reuniu-se diversas vezes e definiu os percursos. Lembramos que todos os roteiros saem de Montes Claros e chegam a Montes Claros.
O primeiro roteiro, denominado roteiro do Espinhaço, sairá com destino a Juramento e Itacambira. De Itacambira, por cima da serra do Espinhaço, a expedição irá até Botumirim. Lá, cachoeiras e campinas serão visitadas, além de grutas que compõem a paisagem natural e, também, informam a ação predatória do homem no ambiente. Depois seguirão para os municípios de Cristália e Grão Mogol. Esse roteiro foi proposto porque coincidirá com o momento de criação do Parque Estadual de Botumirim. O Parque é resultado de lutas e desafios de pessoas e instituições que lutam para preservar a fauna e flora local, além das cachoeiras belíssimas existentes no município.
O segundo roteiro, denominado Serra do Cabral, terá como destino Jequitaí, onde será visitado o local de construção da barragem de Jequitaí (chupador). De lá, seguirá para Francisco Dumont subindo a Serra do Cabral. Depois, descemos em direção a Joaquim Felício e Buenopólis para, em seguida, chegarmos a Augusto de Lima. No último dia seguiremos até Lassance e Várzea da palma para, em seguida, retornar a Montes Claros. O objetivo desse percurso é catalogar a grande degradação ambiental provocada por empreendimentos de exploração florestal e mineral. Esse é um percurso de difícil execução por ser longo e tortuoso.
Nos tempos atuais a região da Serra do Cabral, que compreende o Cerrado com várias veredas, passou a ser ocupada por empreendimentos mineradores, florestais e agropecuários que resultam em grandes impactos ambientais. Desmatamentos, uso desordenado do solo e grandes incêndios tornaram-se comuns na vida das pessoas que ocupam essa importante faixa territorial de Minas Gerais. Por isso, esse roteiro é mais extenso e abrangerá um número maior de municípios.
O terceiro roteiro, chamado de Peruaçu, sairá com destino a Januária. De lá seguirá até região de Pandeiros, que abriga um dos aquíferos do rio São Francisco e é um berço natural para a reprodução e desenvolvimento de várias espécies, sendo considerado o pantanal mineiro. Depois, a Expedição seguirá para a região do Gibão, no município de Montalvânia. Nesse tempo será visitado o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, para catalogação dos problemas do seu entorno. O rio Carinhanha será visitado e, no dia seguinte, a Expedição seguirá para o Parque Estadual Cavernas do Peruaçu. Lá, importantes paisagens naturais serão visitadas e relatados os problemas ambientais do seu entorno.
Um olhar diferenciado será voltado aos povos e comunidades tradicionais do vale do Peruaçu, que cada vez mais lutam para verem garantidos os seus direitos e territórios. As práticas culinárias serão evidenciadas e levadas em consideração no processo de entendimento da tradicionalidade dessas gentes.
Informamos que nesse percurso uma equipe da Unesco acompanhará os expedicionários, pois há a possibilidade de reconhecimento do Parque Nacional do Peruaçu como Patrimônio Cultural da Humanidade.